segunda-feira, novembro 13, 2006

Reportagem especial-Tradição na várzea:Parte III

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Seja para o bem ou para o mal, o importante é jogar

Para ganhar o pão de todo dia, o empresário Milton Bigucci está acostumado a construir prédios comerciais e arranha-céus luxuosos em locais que serviram no passado para a diversão de muitos moleques que adoravam “bater uma bolinha” no barro. Ironicamente, quando mais jovem, Bigucci também era um desses meninos. Viveu sua infância e adolescência no bairro do Ipiranga, e foi lá que integrou as equipes varzeanas da Família F.C., Vergueirinho, Santo Antônio, Flamengo do Moinho Velho e o G.E. Centenário, aonde se tornou presidente do clube durante muitos anos.

Aliás, as peladas, não fazem parte só do passado, mas também do presente de Bigucci. Com 65 anos, ele garante que irá jogar até ter saúde para isso. “Até hoje jogo futebol de campo Sênior no campeonato do Clube Atlético Ypiranga, no Guarujá e em qualquer outra equipe que me convide”, contou ele. Mas hoje não é mais tão fácil arrumar um campo para praticar o esporte, muitos espaços foram transformados em prédios, casas, lojas, comércios, alguns erguidos pela sua própria construtora. “Infelizmente, ou felizmente os campos de futebol varzeano estão acabando pelo desenvolvimento e a necessidade de habitações para a população. Cada vez mais o futebol está indo para os clubes fechados”, disse Bigucci.

Esse foi um dos motivos que o levou a procurar o salão para continuar com sua ‘peladinha’ aos finais de semana. Seus filhos seguem os mesmos passos, disputam competições até mesmo internacionais, mas no salão. Campeonatos de várzea não fazem parte da realidade dos seus guris. “Todos os meus filhos adoram jogar futebol. E são bons. O caçula, Marcelo, jogou profissionalmente nos Estados Unidos, no Palm Beach da Flórida. O gosto pelo futebol está no sangue”, falou com orgulho.

Embora colecione troféus, medalhas, títulos e flâmulas, Bigucci é modesto quanto ao talento. “Ainda que não tenha aprendido muito, sempre gostei de jogar. Sou mais técnico do que “cascudo”, brinca ele. Os prêmios hoje servem como lembrança de uma época boa que deixou saudades para o construtor. Tempo em que não se jogava só por dinheiro, e a várzea era valorizada. Mas, mesmo diante do descaso atual, o empresário não perde a esperança de que a várzea seja eterna, e que a alegria e a pureza dos jogos voltem a contagiar as pessoas. “Acho que a população era mais “pura” naquela época e parece que tudo era mais alegre. Hoje há muita violência. O máximo que se via eram algumas brigas “no tapa”. Nunca com armas. A amizade do futebol amador é mais sincera e pura.”, diz Bigucci com um ar saudosista, mas ao mesmo tempo esperançoso.

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